Ela não merece!
Quando ele desligou o telefone correu para o andar de baixo. Ele sabia o que estava procurando e sabia exatamente onde iria encontrar. E na terceira gaveta da esquerda, levantou madeira solta e puxou o retrato. Não havia mais jeito.
Não podia negar. Passara um tempo considerável desde a ultima vez que encarara aquela foto. O rosto atual estava muito mais amargo, sem paixão. Sem vida. Os olhos inegavelmente mais fundos e sombrios. Aqueles olhos ele já não encarava há dois meses.
Reparou no sorriso que exibia a moça da foto. Seria impossível que a linda garota da foto, com suas roupas coloridas e um lindo parque como cenário, saberia que um dia se tornaria aquela pessoa tão densa, na qual acabara de gritar ao telefone.
Talvez a união dos dois tenha tornado assim. Talvez ele nunca deveria ter se apaixonado por ela.
Mas não... Era idiotice ficar se culpando! Ele sabia que a culpa era todo dela! Oras... Ela pediu por isso! Implorou com toda força de seu ser baixo e sujo... Que nada aparentava o sorriso meigo da foto.
Agora ele pensava. Pensava como se nunca tivesse feito isso em toda a sua vida. De fato, ele realmente achava que pensar, devia ter se tornado um hábito naquela nova casa em que estava. Sozinho a semanas. Preso no tédio. Os pensamentos passavam os limites. Ele não mais os controlava ou dominava.
Tudo passou muito rápido na memória dele. Várias imagens que se confundiam, e que encaixadas ou não, mostravam a história que já ficara no passado. A história que unia o homem do telefone com a mulher da foto.
Era claro que erros era cometidos por ambas as partes. Mas ela ultrapassava os limites, e ainda por cima o culpava! A mulher que ele antes amara tanto, agora só lhe causava ódio e repulsa. Nojo. E ao mesmo tempo, surgia uma vontade ardente e inexplicável de tê-la novamente. De beijar aqueles lábios quentes... De tocar aquele corpo frágil.
E as duas sensações guerreavam dentro dele como dois animais selvagens. Ferozes.
A decisão já estava tomada. Nunca haveria outra saída.
Ele estava fora de si. Naquelas circunstâncias ele já não existia. Era simplesmente um misto de sensações pulsantes que dominavam um corpo incontrolavelmente. Ela o tornara assim.
Afinal, a morte dela não seria de tanto espanto. Ela já estava morta há anos.
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