"Um caminho que se percorre não com pernas, mas com coração. E onde o único desafio que vale, é percorrê-lo por inteiro."


domingo, 21 de novembro de 2010

Oh god

Existem dois assuntos que sempre rendem quando não se tem mais o que falar numa roda de amigos.




SEXO.





e RELIGIÃO.





Semana passada me vi numa rodinha de amigos conversando sobre o segundo assunto, já que o primeiro, por ser o mais especulado, todo mundo já sabe tudo de todo mundo.





Sou conhecida pelas opiniões diferentes e pela (como meu pai sempre fala) "autenticidade", seja lá o que isso signifique pra ele. E sabendo que (como quase sempre) não tenho uma opinião que se mantém com a maioria, uma amiga virou pra mim e perguntou:
"Mas Lívia, você não acredita em Deus?" e em seguida, "Tá, mas você reza?".





Não estou aqui escrevendo sobre esse assunto com o objetivo de convencer alguém ou fazer propaganda, ou até mesmo desacreditar ou confundir. Nada disso. É apenas uma reflexão aberta sobre minhas crenças.


Aproveito esse espaço, porque, pelo motivo que verão a seguir, esse não é um assunto de que eu fale muito. Na verdade quase não falo sobre isso. Nas poucas vezes que falei me senti meio "a estranha", mas tudo bem. Aí vai.





Eu não tenho religião.
Não, eu não me considero atéia.



Acreditar em Deus? Não sei.
Sim e não.



Se eu rezo?
Não eu não rezo.
Mas sim, eu me comunico, eu me expando, eu confraternizo.



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Fui criada em uma família católica.
Fui batizada, fiz catecismo e primeira comunhão.

Odiei fazer.
Lembro até hoje da minha primeira e única confissão.
Me senti uma prisioneira se confessando pra acabar na pena de morte.
Uma das perguntas horríveis do padre, pra mim, uma menina de 11, 12 anos, foi se eu já tinha beijado algum menino.
Eu achei aquilo tão absolutamente cruel e ignorante.
Disse a verdade, que sim.
E levei muitas "ave marias" pra rezar em casa, porque era pecado.
Meu nojo pela igreja católica havia começado.

Recusei a crisma. Como sempre causando polêmica na família.



Fui em igreja evangélica.
Frequentei centro espírita.
Conheci muita gente da umbanda.
Estudei Wicca, bruxaria verde.

Li a bíblia.
E li "O código DaVinci".
Eu não acredito na Bíblia.
Pra mim ela foi escrita por homens com interesses políticos. Apenas isso.




Depois de tudo chego hoje a uma conclusão muito pessoal.
Deus não criou nada.

Nós criamos Deus.


Acredito que as pessoas precisam buscar uma explicação para aquilo que não conseguem entender.


Acredito que para muitas delas viver somente a vida, sem ter uma esperança por algo maior, uma crença por algo que não se pode ver, mas que elas podem pedir ajuda e confiar que tudo dará certo, seria terrivelmente desesperador.


Ver que é simplemente isso, que você é apenas você, e a Terra é apenas a Terra e não existe nada maior tomando conta, ou cuidando de você, ou traçando sua missão, ou te esperando no paraíso, é uma ação bruta que a maioria das pessoas não aguenta.


Elas criam Deus porque precisam acreditar em algo maior.
Porque só a vida não basta. Porque a dor e o desespero as toma.





E o que eu acredito?
Bem, eu acredito realmente em muitas coisas.



Eu acredito em mim.
Eu acredito na energia. Uma energia equivalente ao Deus de algumas pessoas.
Eu acredito imensamente no universo e na energia que nos une.
Eu acredito nos animais.
Acredito na natureza.
Acredito na água, nas frutas.
Acredito no meu corpo, no fogo, na terra e no ar.
Acredito nos peixes e nas pedras.
Acredito na vida e não na morte.
Acredito em me alimentar de vida.
Acredito no cristal.
Acredito no olfato, no paladar, na visão e no tato.
Acredito nos meus sentimentos.
Acredito na minha coluna e nos meus pés.
Acredito que toda ação que pratico tem uma imensa interferência na minha vida e na vida dos outros.
Acredito que tudo está ligado. Minha ações reagem com o universo.



Eu não rezo, mas eu falo comigo mesma, e falo com o cosmo.
Eu não acredito em Deus, mas eu acendo velas porque gosto do sentir o fogo e o cheiro.
Eu não acredito em pecados e punições. Mas eu mesma julgo minhas ações pelo que penso.
Eu acredito na vida, sou vegetariana e não me alimento da morte.

Eu acredito no gosto do vinho e na embriaguez, que nos leva a novos sentidos e visões.
Acredito no gosto do beijo e do sexo.

E não sinto culpa no que acredito.


Sinto prazer.
Acredito no prazer.




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Semana passada, no fim da tarde eu estava na minha sacada treinando claves de malabares.


A energia que sinto quando jogos claves, o corpo expandido, a rápida percepção, o ritmo, o contato com o universo. Isso pra mim é Deus. Eu me sinto bem. Viva.


Passei horas lá. Sentindo. Aproveitando.
E recebi um milagre.
Começou a chover.
Eu continuei.
E esperei a chuva me ensopar.
Fiquei jogando malabares cada vez mais rápido, cantando na chuva.
Isso pra mim é Deus. É reza. É tudo o que pensam de religião.
Essa é minha religião.
Deus está na chuva.




A chuva se tornou tempestade e durou horas.
E eu corri, gritei, pulei e me deitei no chão.
Jurei receber o milagre até a chuva passar.
Cumpri.
Apenas voltei pra dentro quando a chuva passou. Esperei a última gota.
A liberdade que devora meu corpo é Deus.



Ontem mesmo.
Uma noite quente.
Depois da meia noite peguei meu violão, que estou começando a tocar.
Esse violão meu avô, o nono, que eu tanto amava, deixou pra mim antes de morrer.
E agora, depois de anos, chegou o momento deu aprender a tocá-lo.


Aprendi algumas músicas.


E ontem em especial uma que eu amo. "Esconderijo", da Ana Cañas, que motivou meu último post aliás.

Meu pai me falava quando eu era criança, que os mortos viram estrelas.
Que se um dia ele não estiver mais comigo, basta eu olhar no céu para ver ele na mais linda estrela. Pedir ajuda ou sentir o carinho. No Rei Leão isso também é falado, rs.


Sou do signo de Leão e meu pai acha isso especial.
Ele sempre cantava "Leãozinho" do Caetano Veloso pra mim.

Então ontem eu fui na minha sacada meia noite.
Não tinham estrelas no céu, mas imaginei meu avô.
E toquei a canção que aprendi pra ele. Pra ele e pro universo.

No final da canção uma nuvem se foi, mostrando uma única linda estrela.
Ontem eu toquei uma música pro meu nono, no violão que ele me deixou.
Isso pra mim é Deus.

Não eu não rezo pros mortos, nem acendo velas, nem acredito em céu, inferno, Apocalipse e afins.


Mas eu sou capaz de sentir o amor de meu avô, conversar com ele e lhe mostrar a música que aprendi com tanto carinho.





Deus pra mim não existe.

Eu sou Deus, vivo Deus e respiro Deus.

Sinto-o ao tocar uma música, aos aplausos de fins de espetáculos, levando meu cachorro pra passear no parque e me emocionando com um livro.

Energia me gere e me basta.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Esconderijo

Beijos...
Beijos.
Indescritíveis.
Como falar sobre o que se sente no momento do toque.
Das sensações. Sonhos.

Respiração.

Já tive muitos beijos.
Muitas bocas.
Lábios.


Diferentes.
Rápidos.
Sufocantes.
Calmos.
Doces.
Felizes.
Tristes.
Sonhadores.
Com vontade.
E sem vontade também.
Eróticos.
Quentes.
E frios, porque não?
Muito fortes.
Fortes demais.
Leves.
Mordidos.
Carinhosos.

Gosto.
Gosto de gostar de beijos.


Alguns sinto tanta falta.
Uma falta infinita.
Insaciada.

Outros nem tanto.

Mentira se disser que lembro de todos.
Lembro do gosto.
E lembro do toque.

Na verdade não é nada.
Só lembrar de beijos.
Enquanto escuto Ana Canãs no velho toca CD do meu lado.

Procuro a solidão
Como o ar procura o chão
Como a chuva só desmancha
Pensamento sem razão
Procuro esconderijo
Encontro um novo abrigo
Como a arte do seu jeito
E tudo faz sentido
Calma pra contar nos dedos
Beijo pra ficar aqui
Teto para desabar
Você para construir