O sonho de Macário sempre foi ter um filho homem. Logo depois
de casar, sua mulher engravidou: uma menina. E assim, a cada nova gravidez, uma
nova menina. Depois de sete meninas, e do conselho de todos para que
desistisse, Macário resolveu fazer uma última tentativa: ou tinha um filho
homem agora, ou não tinha mais filho nenhum. E assim nasceu Euzébio,
Euzebiozinho, como o chamavam. O pai não se aguentou de tanta felicidade e logo
disse “Agora sim posso morrer”. E de fato, quarenta e oito horas depois, teve
um infarto durante o almoço.
Euzebiozinho cresceu amado e paparicado por todos, ou melhor,
por todas, pois cresceu em meio à companhia de suas sete irmãs, de sua mãe, de
suas tias e de suas vizinhas, assim como a costureira e a faxineira da família.
Euzebiozinho tornou-se uma flor de menino. Com quatro anos já tocava piano, aos
seis anos já sabia bordar, aos oito anos já preparava bolos para suas irmãs; e assim
foi crescendo Euzébio, rodeado de companhias femininas.
Chegou aos dezessete anos sem nunca ter dito um palavrão,
nunca ter andado com meninos, nunca ter tragado um cigarro. Era delicado. Um
exemplo de menino bonito e bem comportado. Não se podia desejar maior
doçura de modos, idéias, sentimentos.
Um dia, um tio do rapaz vem visitar e família, e encontra
Euzébio fazendo as unhas com suas irmãs. Impressionado com os modos delicados
do rapaz, pergunta se já tem ou teve uma namorada. Não. O tio então fala à
família o quanto estão “estragando” o rapaz, mostrando ser extremamente
necessário que Euzébio case o mais depressa possível.
Começou então a busca pela namorada ideal. Todas as mulheres
da casa procuraram por toda a cidade uma mocinha que fosse perfeita para Euzébio.
Um dia, apresentaram ao rapaz uma moça chamada Iracema, uma linda menina de
dezessete anos, mas com corpo de mulher casada. A menina era bonita, e um tanto
atrevida.
Assim começou o namoro. Namoravam todas as tardes, com todas
as mulheres da família vigiando. Após uma nova visita do tio, e de uma nova bronca
da parte dele, pararam de vigiar o namoro de Euzébio, e passaram a deixá-lo a
sós com a pequena.
A menina tentava de todas as formas: dava beijos em seu
rosto, mandava-lhe sorrisos, fazia-lhe carinhos e até lhe deu um beijo no
pescoço. Euzébio, tímido, apenas se retraía e se esquivava.
Foi marcado o casório.
Todas as mulheres começaram os
preparativos para o casamento, todas estavam animadas, menos Euzebiozinho. Até
o dia em que a pequena chegou em sua casa com revistas de vestidos de noiva.
Euzébio se encantou. A partir daquele momento, se tornou o responsável pelo
vestido da noiva. Ficava maravilhado em pesquisar modelos, lantejoulas, rendas
e todas as opções de tecidos, buques, grinaldas e véus. Desenhou e junto com a
costureira fizeram o vestido perfeito. “Não existe nada mais lindo no mundo do
que uma noiva”, dizia ele.
Um dia antes do casamento, o vestido sumiu. A família ficou
apavorada. Procuravam o vestido por toda a parte, em toda a casa. Até a polícia
da cidade foi chamada, e nada de vestido de noiva. Cansados de tanto procurar,
decidiram descansar, e decidir o que fazer no dia seguinte.
Euzébio, que roubara o vestido de noiva teve a madrugada
inteira para ele, sem pressa. Tomou um longo banho, com sabonete espumoso,
perfumou-se com água de colônia diante do espelho. Da água de colônia, passou
ao pó de arroz, ao rouge e ao batom.
Finalmente vestiu o vestido de noiva, com a grinalda e o véu. Apanhou o disco da marcha nupcial e o colocou
na vitrola, no volume máximo.
Pouco depois a família acorda e vai até seu quarto, ver o que
está acontecendo.
Vestido de noiva, com véu e grinalda, enforcara-se
Euzebiozinho, deixando o seguinte bilhete: “Quero ser enterrado assim.”.
--baseado no conto Delicado, de Nelson Rodrigues--
"Um caminho que se percorre não com pernas, mas com coração. E onde o único desafio que vale, é percorrê-lo por inteiro."
domingo, 30 de outubro de 2011
sexta-feira, 7 de outubro de 2011
O que amamos
"Apenas amamos aquilo que não possuimos por completo." - Marcel Proust
(Copiado do face de Nadja Mahlmann)
domingo, 2 de outubro de 2011
Por que?
Uma pessoa muito sábia, uma vez nos alertou a sempre nos questionarmos o por que...
Por que de fazermos o que fazemos...
Abrindo mão de tudo e de todos...
Nos entregando sem reservas...
Mesmo que com muito medo, passando por cima dele...
E eu nunca soube muito bem como responder essa pergunta, o por que...
Mas nunca tive dúvidas, só certezas.
Como alguém que anda com um venda nos olhos e sai correndo o mais rápido que pode, sem medo de bater, de quem irá encontrar, do que irá sofrer, dos sabores que experimentará, dos bons e maus momentos.
A sensação é tão forte que o frio na barriga é permanente.
A adrenalina é máxima até quando estamos dormindo, porque nossos sonhos se misturam com a nossa realidade, afinal, vivemos um sonho.
Sofremos em um paraíso.
Voamos no chão.
Vivemos da esperança em rir todos os risos e chorar todos os prantos.
Somos pela natureza insatisfeitos, incompletos, buscamos na arte uma forma de preencher esse buraco que a vida nos deixou.
Vivemos nos testando, nos maquiando, nos quebrando. Vivendo e morrendo.
Temos o poder de viver muitas vidas dentro de uma.
Um gato tem sete vidas? Nós temos muito mais que sete.
Vivemos em um quadrado negro onde tudo pode.
Sentimos em nosso corpo o inexplicável. O que nos mantém vivo.
Colocamos em nossa boca muitas palavras, falas do poeta que roubamos para nós, transformando-as em parte da nossa alma.
Visão romântica? Sim em todo o nosso ser.
Como responder o por que de cada dia.
Sonhamos mais do que todos.
Temos dentro de nós tudo e mais um pouco.
Absorvemos a experiência do mundo.
E quem sabe de tudo isso?
Apenas nós...
Atores nossos de cada dia.
Obrigada pela oportunidade de sofrer os mais terríveis sofrimentos, de brincar das mais deliciosas brincadeiras, de chorar por todas as felicidades, de jogar e de envolver.
Evoé! Jovens e velhos atores.
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